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Revisão sistemática em pacientes de Doença Inflamatória Intestinal com COVID-19: é hora de fazer um balanço

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Desde o início da emergência de saúde pública de importância internacional devido ao surto do novo coronavírus (SARS-CoV-2), o manejo de pacientes com Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) tem tido uma particular atenção, pois esses pacientes são frequentemente tratados com medicamentos imunossupressores e, portanto, potencialmente expostos a um maior risco de infecção do que a população em geral.

Além disso, hospitais foram reorganizados para receber um número crescente de pacientes infectados, para se adaptar às medidas de distanciamento social, e para evitar o risco de infecção foram adiadas ou canceladas as atividades não essenciais e, também, as consultas ambulatoriais foram substituídas por clínicas virtuais.
A Sociedade Britânica de Gastroenterologia (BSG), a Organização Europeia de Crohn e Colite (ECCO) e a Organização Internacional para o Estudo da Doença Inflamatória Intestinal (IOIBD) prontamente forneceram recomendações empíricas para o gerenciamento de pacientes com Doença de Crohn (DC) e Retocolite Ulcerativa (RCU). No entanto, o conhecimento do SARS-CoV-2 evolui diariamente e algumas dúvidas persistem sobre a abordagem ideal em pacientes tratados com imunossupressores, biológicos ou pequenas moléculas.

Contexto, objetivos e métodos

Os dados das características clínicas de pacientes com DII e COVID-19 (COronaVIrus Disease 2019_Doença causada pelo novo coronavírus com surto em 2019) são escassos. O objetivo dessa revisão sistemática foi investigar sintomas e o gerenciamento do diagnóstico e terapêutica de pacientes com DII e COVID-19.
O objetivo desse estudo foi fornecer uma visão geral sistemática dos dados da literatura sobre pacientes com DII e COVID-19, a fim de relatar as características clínicas da doença, identificar quaisquer fatores de risco para doença grave/complicada, e para investigar o gerenciamento diagnóstico-terapêutico de pacientes com DII nesse contexto atual de emergência.
Foram realizadas pesquisas nos bancos de dados da literatura biomédica, a saber, Pubmed, Embase, Web of Science e MedRxiv até 29 de julho de 2020, para identificar todos os estudos relatando informações clínicas sobre pacientes adultos e pediátricos com DII e COVID-19 confirmada.

Resultados

Vinte e três estudos atenderam aos critérios de inclusão nessa revisão, incluindo 243.760 pacientes com DII. A COVID-19 foi diagnosticada em 1.028 pacientes (509 doença de Crohn (49,5%), 428 colite ulcerativa (41,6%), 49 colite indeterminada (4,8%) e 42 dados ausentes (4,1%) representando prevalência acumulada de 0,4%.
A infecção viral ocorreu com maior frequência no sexo masculino do que no sexo feminino (56,5% vs 39,7%) e a idade média variou de 14 a 85 anos.
Os sintomas mais comuns foram febre (48,3%), tosse (46,5%) e diarreia (20,5%) e o diagnóstico da COVID-19 foi obtido, principalmente, através da análise da reação em cadeia de polimerase (PCR) de swabs nasofaríngeos (94,4%) e tomografia computadorizada torácica (38,9%).
Hidroxicloroquina (23,9%), lopinavir/ritonavir (8,2%), esteroides (3,2%) e antibióticos (3,1%) eram as drogas mais usadas.
No total, cerca de um terço dos pacientes foram hospitalizados (30,6%) e 11,4% deles necessitaram de internação em unidade de terapia intensiva (UTI).
No total, foram notificados 29 óbitos relacionados à COVID-19 (3,8%) e idade avançada e presença de comorbidades foram reconhecidos como fatores de risco para COVID-19 e desfechos negativos.

Conclusão

A diarreia ocorreu com mais frequência em pacientes com DII e COVID-19 do que na população sem DII. Outros estudos são necessários para definir a abordagem diagnóstico-terapêutica ideal em pacientes com DII e COVID-19.

Destaco algumas informações sobre os medicamentos citados nesse artigo

Hidroxicloroquina (23,9%) e lopinavir/ritonavir (8,2%) foram os medicamentos administrados mais frequentemente nesse estudo tipo coorte.
Hidroxicloroquina é um medicamento antimalárico que provou ser eficaz na inibição da replicação in vitro do novo coronavírus (SARS-CoV-2). No entanto, os dados que suportam seu uso em pacientes infectados ainda são limitados. Um estudo prospectivo observacional realizado com 1376 pacientes com COVID-19 não mostrou diferença significativa no risco de intubação e morte entre usuários de hidroxicloroquina e não usuários, levantando diversas dúvidas sobre sua eficácia.
Da mesma forma, dados inconclusivos são relatados sobre lopinavir/ritonavir. Um ensaio controlado randomizado comparou lopinavir/ritonavir com cuidados padrões habituais (oxigênio suplementar, ventilação não invasiva e invasiva, antibióticos, suporte vasopressor, terapia de reposição renal e oxigenação por membrana extracorpórea) para o tratamento de pacientes com COVID-19 hospitalizados. Não foi encontrada nenhuma diferença significativa entre os dois grupos em relação ao tempo para melhoria clínica.
Além disso, é importante ressaltar, três relatos de caso de remissão clínica de pacientes com DII e COVID-19 alcançada após o tratamento com infliximabe e tofacitinibe. Esses achados certamente não são suficientes para apoiar o uso desses medicamentos, mas eles fornecem numerosos insights.
Muitas evidências revelam que a gravidade da COVID-19 está associada a uma síndrome de tempestade de citocinas caracterizada por um aumento de interleucina (IL) -2, IL-7, fator estimulador de colônia de granulócitos, proteína 10 induzível pelo interferon-γ, proteína 1 monócito-quimiotática, proteína inflamatória de macrófago 1-α e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α).
Com base nesses achados, é legítimo supor que o uso de medicamentos biológicos, que inibem seletivamente citocinas específicas ou pequenas moléculas que bloqueiam simultaneamente múltiplas vias celulares, pode desempenhar um papel no tratamento desses pacientes.
Importante também destacar que mais da metade dos pacientes incluídos nesse estudo era tratada com biológicos ou pequenas moléculas no momento do diagnóstico da COVID-19, mas não se sabe se esses medicamentos influenciaram o prognóstico dos pacientes com DII infectados com COVID-19. Vários estudos em andamento estão recrutando pacientes para avaliar a eficácia e a segurança de moléculas biológicas e pequenas moléculas para tratamento da COVID-19 e permitirão entender se essas drogas podem ser usadas neste cenário.


Referência:
D’Amico F, Danese S, Peyrin-Biroulet L, Systematic review on IBD patients with COVID-19: it is time to take stock, Clinical Gastroenterology and Hepatology (2020), doi: https://doi.org/10.1016/j.cgh.2020.08.003.
Revisor Colaborador:
Dr Anicet Okinga – youtube.com/c/DoutorOkinga

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