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Rede de apoio beneficia pacientes

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Como a luta contra o câncer de Nara Almeida no Instagram era uma síntese da realidade atual

Modelo e influenciadora digital, que morreu nesta segunda-feira, dividia com os seguidores o dia a dia da batalha contra a doença


Na última postagem publicada em seu perfil no Instagram, em 4 de maio, a modelo e influenciadora digital Nara Almeida, 24 anos, pedia para ser forte o suficiente para se afastar “de tudo que reprime minha coragem, reduz minha fé e trava meu riso”. Na fotografia anterior, estava deitada em uma cama de hospital, ligada a cabos e a uma sonda, enquanto levantava o braço e apontava o dedo para cima, demonstrando coragem e fé em Deus. As publicações são tanto amostras de garra como da forma como a jovem expunha de forma transparente o dia a dia de luta contra o câncer de estômago até morrer nesta segunda-feira (21), em São Paulo.

Nara compartilhava detalhes de sua batalha guiada por um carpe diem. Ela era acometida por um raro tipo de câncer de estômago que alcançou o peritônio (membrana que recobre a parede do abdômen) e o pâncreas: normalmente, esse tipo de tumor não atinge mulheres com menos de 40 anos. A jovem não escondia os temores, mas se focava em comunicar esperança e vontade de viver – algo que os mais de 4 milhões de seguidores admiravam.

Há vários estudos demonstrando que uma rede de apoio beneficia pacientes com câncer, tanto para lidar com os efeitos colaterais do tratamento quanto para a sobrevida da doença. A narrativa que Nara criou era uma extensão, na internet, desse suporte.

— Ela era muito jovem e teve formas de enfrentamento de jovens, usando a rede social. Os jovens compartilham muito de seu dia a dia nas redes sociais, aí ela incorpora isso na rede social. Ela compartilhava para elaborar e assimilar a doença — reflete a psicóloga do Hospital do Câncer Mãe de Deus Aline Daniela Lopes.
A modelo, aliás, relatou que seguidoras mandavam centenas de mensagens enviando-lhe boas energias e relatando dar menos importância a términos de relacionamento ou a inseguranças com o próprio corpo após entrar em contato com sua história. Em posts, Nara agradecia: “Obrigado pelas orações”. Na prática, dizem médicos, era uma espécie de grupo de diálogo, assim como há reuniões de indivíduos com câncer, de mães grávidas e afins.

— A Nara mostrava muitas mensagens de gratidão. Isso ajudava os jovens a valorizar mais a vida, porque viam uma moça debilitada mostrando o que realmente importa. Era uma espécie de catarse, de dividir aquela dor com milhões de seguidores e de se sentir escutada, acolhida, porque as pessoas davam forças — avalia a oncologista do Hospital Moinhos de Vento, Alessandra Morelle.
David Coimbra, jornalista e colunista de Zero Hora e da Rádio Gaúcha, enfrentou semelhante experiência ao ser diagnosticado com câncer e escrever crônicas sobre sua rotina e, posteriormente, o livro Hoje Eu Venci o Câncer (L&PM Editores, 208 páginas, R$ 34,90). Ele diz que recebeu (e segue recebendo) mensagens de leitores agradecendo os relatos, em uma comunhão de vivências. O escritor reforça: compartilhar dá significado ao que o indivíduo enfrenta.
— Ao ver que outras pessoas eram ajudadas, certamente isso a consolou e deu significado ao que ela passava. A gente procura significado em tudo que faz. Se tu sentes que uma ação tem significado para outras pessoas, tu transcendes tua existência rotineira… A morte é uma coisa comezinha. E, com a proximidade dela, tu transformas tua vida em algo que tem significado. Se ela tivesse sofrido em silêncio, só a família falaria. Hoje, estamos nós falando disso também — reflete.
Enquanto alcançava relevância social, Nara também evidenciava uma sociedade que lida melhor com o câncer do que décadas atrás, quando o diagnóstico era sentença de morte. Sua resposta dialoga com a realidade atual: no Rio Grande do Sul, por exemplo, a doença é a principal responsável por mortes em 140 municípios. Ao mesmo tempo, os posts no Instagram eram, também, uma demonstração da maior relevância que os pacientes têm na tomada de decisões em relação à própria vida. Em sociedades médicas e organizações não governamentais, ganham força movimentos para empoderar os pacientes.
— Hoje, com o conhecimento que se tem, dificilmente o médico decide se vai fazer químio ou cirurgia. O paciente pergunta, quer saber, ao contrário de anos atrás, quando a pessoa escondia a doença, não questionava ou a família escondia o diagnóstico do próprio familiar — diz Ivan Cecconello, professor de cirurgia do aparelho digestivo da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).
Fonte: GauchaZH

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