Blog Oficial Alemdii

Ministério da Saúde ameaça quebrar patente de medicamento de alto custo

Compartilhe essa publicação

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on email

Indústria e técnicos do ministério avaliam fala como blefe para forçar redução de preço em incorporação ao SUS

O secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Marco Fireman, disse, na última semana, que o governo pedirá o licenciamento compulsório (quebra de patente, no jargão) de um medicamento cuja incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS) está sendo analisada e cuja ampola teria o preço R$ 300 mil. A declaração foi feita durante evento sobre diabetes e está registrada em vídeo (por volta de 1h59min).

“É preciso que a gente chame a indústria farmacêutica [para negociar incorporações. Os preços no Brasil estão chegando a um absurdo. Tem um medicamento sendo analisado que uma ampola custa R$ 300 mil reais. A gente vai pedir a quebra de patente. O Brasil há muito tempo não faz isso. Mas a gente não pode pagar R$ 300 mil reais numa ampola de medicamento. Não há nada que justifique”, disse Fireman.

JOTA perguntou na terça-feira (7/8) ao Ministério da Saúde como será feito o pedido de licenciamento compulsório, além de qual medicamento deve ser atingido. A pasta não enviou as informações até o fechamento desta edição.
Pessoas do setor regulado consultadas pelo JOTA especulam que o secretário se referia ao Spinraza, medicamento usado em tratamento milionário para doença rara. A fala, para as mesmas fontes, é um blefe para forçar a redução de custos em negociação de incorporação da droga ao SUS. O Spinraza, no entanto, ainda não tem concorrente no mercado.

Licença compulsória

A quebra de patente é regulada pelos artigos 68 a 74 da Lei de Propriedade Industrial (9.279/1996). O Brasil já ameaçou usar o dispositivo no início dos anos 2000, em negociações agressivas para redução de preços de medicamentos contra a Aids.
Em 2007, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em cerimônia no Palácio do Planalto, assinou portaria de quebra de patente do medicamento Efavirenz, usado contra a mesma doença. A medida permitiu ao governo importar medicamento genérico.

Spinraza: tratamento milionário

O Spinraza, que recebeu aval da Anvisa em 2017, é a mais cara registrada no Brasil: R$ 239 mil por frasco, conforme critério PMVG (preço máximo de venda ao governo) da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
O medicamento é usado no tratamento da Atrofia Muscular Espinhal (AME). O custo de tratamento é próximo de R$ 1,5 milhão no primeiro ano, mas cai pela metade na sequência. Hoje, pacientes conseguem na Justiça o acesso ao remédio.
Em maio, cerca de 60 pacientes recebiam o Spinraza no Brasil, segundo dados da fabricante Biogen. A droga não tem concorrente no mundo.

Pressão por preços

A fala de Fireman, para representantes da indústria ouvidos pela reportagem, é ingênua ou busca forçar redução de preços em negociações para incorporação da droga ao SUS. A primeira hipótese seria justificada pelo alto custo e dificuldade para desenvolver produtos biológicos ou biossimilares, que mesmo sem patente em alguns países, não tem concorrente no mercado. Nos casos anteriores em que o Brasil ameaçou ou chegou a quebrar a patente, os alvos foram antirretrovirais de domínio mais simples, com genéricos disponíveis no mercado.
Para o presidente do Sindusfarma, Nelson Mussolini, os danos de uma intervenção tão radical, como quebra de patente, podem ser irreparáveis a curto prazo. “Nosso país tem se pautado em cumprir os contratos. Não me parece crível que o governo do presidente Temer esteja propenso a intervir de forma tão radical no mercado”, disse.
Ao mesmo tempo, técnicos do Ministério da Saúde afirmam, em conversas reservadas, que a fala de Fireman não passaria de bravata na tentativa de reduzir preços. A leitura é de que o governo não deve se indispor com a indústria por conta de um medicamento sem escala como o Spinraza — sem contar o custo e a complexidade de produção.
Em maio, o JOTA revelou que a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) manifestou interesse unilateral em avaliar a tecnologia para incorporação, antes mesmo que a Biogen fizesse o pedido de incorporação do Spinraza à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). Após a decisão do governo, a fabricante anexou a sua proposta de preços ao processo, que incluiria custeio de diagnóstico de pacientes e teto de gastos. Trata-se de uma oferta “inovadora”, conforme a empresa.

Judicialização da saúde

Há uma celeuma no governo sobre como incorporar ao SUS medicamentos para doenças raras, com custos elevadíssimos, como o Spinraza. As compras, hoje, são feitas por determinação da Justiça e ficam sujeitas a atrasos por descumprimento de prazos pelo ministério e secretarias de Saúde, além de entraves em contratações de empresas por meio de licitações emergenciais.
A União destinou R$ 1,02 bilhão com a judicialização da saúde em 2017. Apenas 11 medicamentos correspondem a 92% do valor (R$ 965,2 milhões). O alto custo para o tratamento de poucos pacientes levanta debates sobre como deve ser financiada a compra de drogas para doenças raras.
Sob justificativa de quebrar para distribuição das drogas, o ministério contratou, no final de 2017, empresas sem registros da Anvisa. A agência reguladora foi contrária. No caso de maior repercussão, a empresa Global recebeu R$ 20 milhões adiantados e, mesmo após decisão favorável na Justiça, não entregou os medicamentos. Em outro, a Tuttopharma, de Miami, venceu contratos de cerca de R$ 90 milhões, mas teve o negócio anulado por descumprimento de contrato. A empresa ainda é suspeita de ter apresentado documentos falsos à Anvisa. 
Na discussão sobre incorporação do Spinraza ao SUS, a Biogen também tentará reverter uma divergência com o Ministério da Saúde. O governo tem enviado nota técnica a magistrados para contestar que pacientes com traqueostomia recebam a medicação. Segundo a empresa, o procedimento é necessário devido às complicações da doença, que pode levar à morte em apenas dois anos.
Apesar de a legislação fixar prazo de 180 dias (prorrogáveis por mais 90 dias) para a Conitec decidir sobre a incorporação, há poucos protocolos publicados sobre doenças raras. A Procuradoria da República do Distrito Federal propõe ação civil pública para forçar a Conitec a decidir, em um ano, sobre análises de incorporação atrasadas. No pedido, a procuradora Luciana Loureiro Oliveira aponta que o  órgão aprovou relatório sobre 43 doenças ou grupos de doenças cujos protocolos devem ser priorizados. A previsão era aprovar 12 protocolos no ano de 2015. No final de março de 2018, no entanto, havia aprovação de uso de medicação e previsão de elaboração de PCDT para apenas três doenças raras.
Fonte: Jota

Visite aqui a página no Facebook, o Instagram Farmale e o Canal Farmale!
Não esqueça de curtir a página para saber de todas as atualizações do blog!
Compartilhe essa informação com alguém que possa estar precisando dela!
O Farmale é um espaço informativo, de divulgação e educação sobre temas relacionados com saúde, nutrição e bem-estar, não devendo ser utilizado como substituto ao diagnóstico médico ou tratamento sem antes consultar um profissional de saúde.
O Farmale é o blog oficial da ALEMDII – Associação do Leste Mineiro de Doenças Inflamatórias Intestinais
Tradução »

Doe sua história

Cadastre-se

E fique por dentro de nossas novidades!

[sibwp_form id=2]

Nós siga nas redes sociais e curta a página.

Área do usuário

Não possui uma conta?
Clique em registrar para se cadastrar.