Uma conversa sobre envelhecimento, amor e fim de ciclos
Envelhecimento
Eu não tenho medo das marcas do envelhecimento, não me vejo realizando procedimentos estéticos para essa finalidade, e tudo bem se isso faz sentido para você. Penso no envelhecimento com saúde e qualidade de vida, a estética não é mais uma prioridade e é bastante libertador não me preocupar com isso.
Essa conquista veio após a cirurgia que passei, foi tão traumatizante que lembro bem quando a estética passou a não ser prioridade na minha vida. Quando descobri que precisaria de uma 2ª cirurgia e o Cirurgião disse que iria fazer o que precisava ser feito (correção da hérnia incisional e retirada da vesícula) e iria deixar minha barriga linda, já que dá 1ª cirurgia fiquei com uma cicatriz bem feia.
Mas foi tudo tão assustador por ser uma cirurgia de emergência, que eu só disse a ele: Não quero uma barriga linda, quero nunca mais passar por uma cirurgia e ter medo de morrer.
Envelhecer faz parte da vida, meu medo é perceber o tempo acabando, pois não me relaciono bem com a finitude e isso ficou mais intenso com a maternidade. Finitude é fim e me lembra sobre envelhecer, sobre o tempo que está chegando ao fim e chegar ao fim só me faz pensar que não estarei mais com a Sophia. O amor que tenho pela minha filha é tão gigante que dói pensar em qualquer separação nossa. É um amor que faz tudo valer a pena, que faz meus dias iluminados. Acompanhar seu crescimento, suas conquistas, ver sua construção em uma pessoa amável que me dá um orgulho enorme, é maravilhoso!
Amor
Ser mãe era um desejo grande, mas a violência que vivemos me fez mudar de ideia e esse sentimento era compartilhado com meu marido. Quando recebi o diagnóstico da doença de Crohn esse desejo de ser mãe perdeu mais espaço ainda, pois o medo da violência, que era o motivo inicial para não engravidar, somou-se ao medo da doença e do futuro.
No início do diagnóstico era um medo do desconhecido: o que é essa doença de Crohn? Não tem cura? E agora? Estou entrando na faculdade de Farmácia, vou poder seguir? Vou morrer?
Quando comecei o tratamento senti um pouco de calmaria, mas a jornada do paciente com Doença Inflamatória Intestinal (DII) não é linear, mas a vida também não é linear. Veio a cirurgia em 2013 quando Sophia tinha 1 ano de idade e eu só pensava o que seria dela se eu morresse. Sim, esse era o pensamento principal quando aconteceu a cirurgia: Quem vai cuidar dela como eu cuido? Como será o seu futuro?
Acho que aqui, pensar em finitude, começou a doer de verdade. E dessa dor o amor ficou mais forte e pensar no tempo passando me fez ter uma urgência de viver e viver é estar presente no momento. Passei a valorizar todos o momentos com a Sophia como se fossem os últimos e sigo assim.
Fechando um ciclo
Aqui um ciclo se fechou. Sempre tive uma confiança enorme de que tudo seguiria bem, que a doença não poderia me causar problemas maiores, bem dentro da maneira que sempre levei a vida: deixando ela me levar. E com a cirurgia esse ciclo fechou e meu posicionamento com a doença mudou completamente. Aceitei que doença faz parte da minha vida e que eu precisava me responsabilizar com o tratamento, fazer escolhas pensando na qualidade de vida que quero ter com a minha filha. Sim, sempre ela, por ela, meu grande amor.
Final de 2014 bem recuperada de tudo bateu uma vontade de falar sobre DII, de ser acolhida, conhecer outras pessoas com DII e um sentimento de pertencimento em uma causa. Descobri que todos nós, pacientes, dividimos esses sentimentos e então, me descobri sendo porto seguro de informações para outros pacientes.
E nesse novo ciclo passei a buscar maneiras de apoiar, informar e conscientizar pacientes sobre a DII. E o Farmale passou a fazer parte da minha jornada de paciente, mas com a Farmacêutica apaixonada pela Atenção Farmacêutica buscando empoderar pacientes.