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Descoberta abre a porta a novas terapias para doença de Crohn

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Cientistas do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes descobriram o segredo do funcionamento de uma população de glóbulos brancos que vive no intestino: as suas baterias estão em modo de baixa energia. Aprender a controlar esse mecanismo abre caminho a futuros tratamentos. Mas ainda há muito trabalho pela frente

Foi um bom acaso. A equipe de Marc Velddhoen do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (IMM), da Universidade de Lisboa, estava estudando a forma como as diferenças no ambiente biológico influenciam uma população muito especial de glóbulos brancos (células do sistema imunitário) que existe nos intestinos e na pele (por isso lhes chamam linfócitos intra-epiteliais) e deu com algo muito estranho e inesperado: as mitocôndrias (as fábricas de energia que existem em todas células) desses glóbulos brancos pareciam ter desaparecido.

“Ou não estavam lá, o que era uma coisa impensável, ou então não estavam visíveis. Fomos à procura delas”, recorda Marc Veldhoen, ao DN.

Para deslindar o mistério, os investigadores do IMM, em colaboração com uma equipe do Instituto Babraham, no Reino Unido, e da Universidade de Chicago, Estados Unidos, decidiram utilizar uma instrumentação mais poderosa e a grande capacidade de ampliação da microscopia electrônica. E, sim, afinal, lá estavam elas, as mitocôndrias, muito esbatidas na imagem.

Porque estariam tão enfraquecidas? Foi ao buscar a resposta para esta nova pergunta que os investigadores fizeram uma importante descoberta: a de que fábricas de energia destes glóbulos brancos funcionam de forma diferente e são também diferentes em relação às que existem nos outros glóbulos brancos do organismo.

Agora colocam-se novas perguntas, mas, sobretudo, a descoberta “abre um caminho novo” para futuros diagnósticos e, quem sabe, para novas terapias de doenças do sistema digestivo, como as doenças inflamatórias intestinais, que incluem a doença de Crohn, a retocolite ulcerativa, a doença celíaca, como sublinha o coordenador do estudo, Marc Veldhoen.

A descoberta, que é publicada hoje na revista Science Immunology, ajuda também a explicar, “pelo menos em parte”, um mistério que envolvia estes glóbulos brancos, desde que eles foram descobertos, há cerca de duas décadas: o de que, ao contrário dos outros no organismo, eles parecem viver num estado de semi-repouso, ou de semi-actividade.

Já nas doenças inflamatórias do intestino, como a de Crohn e a colite ulcerosa, ou a doença celíaca, estes glóbulos brancos estão muito ativos e, daí, que esta novo conhecimento sobre como funcionam as suas “baterias” abra uma nova porta para futuras terapias, se se conseguir controlar o seu funcionamento.

Em modo de baixa energia

“Quando analisamos detalhadamente essas estruturas, encontramos alterações nos lípidos que formam uma camada que separa as mitocôndrias do resto da célula”, diz, por seu turno Špela Konjar, também investigadora do IMM e a primeira autora do estudo. “Essas mudanças”, explica, fazem com que esta “baterias” funcionem de forma diferente, como se estivessem num “modo de baixa energia”.

“Agora sabemos que uma parte da explicação para o estado normal destes glóbulos brancos, que não é totalmente ativo, nem totalmente em repouso, está nas suas mitocôndrias, que são diferentes e funcionam de forma diferente, em modo de baixa energia”, resume Marc Velddhoen..

No estudo, os investigadores conseguiram perceber que uma das alterações que existe nas mitocôndrias destas células imunitárias presentes no intestino tem a ver com a disposição dos lípidos na sua estrutura. E, quando experimentaram fazer mudanças nos lípidos, conseguiram produzir também uma mudança na ativação das células.

“Pensamos que esta diferença nos lípidos interfere com a ação de alguma proteína e, por isso, agora queremos identificar essa proteína específica, porque a partir daí teremos um possível alvo terapêutico”.

A ideia é poder controlar o mecanismo, de forma a tornar menos ativos aqueles glóbulos brancos que nestas doenças estão sobreativados. Mas até lá “ainda temos muito trabalho pela frente”, conclui Marc Veldhoen.

Fonte: DN Portugal

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