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Aedes aegypti, Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa

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Essa semana, o Aedes aegypti, passou de vilão à mocinho: ele pode ser útil no tratamento da doença inflamatória intestinal (DII) – doença de Crohn (DC) e retocolite ulcerativa (RCU). Boa notícia, concordam? Mas não adianta você fazer criação de mosquito e deixar ele sugar seu sangue, ok? É só uma pesquisa, muito promissora, ainda sendo realizada em modelos animais (camundongos). Continue eliminando criadouros com água parada, usando repelente, continue a guerra ao mosquito, pois ele transmite doenças graves e, para nós que usamos imunossupressores pode ser maior a gravidade. Então vamos entender como o mosquito transmissor do vírus da dengue, zika, chikungunya, febre amarela pode ser útil na DII. Segundo a notícia divulgada pelo telejornal da Rede Record, pesquisadores descobriram que a saliva do Aedes Aegypti possui moléculas com potencial farmacológico para atuar como imunomoduladores na DII.
Primeiramente quero conversar com você sobre o mosquito, especificamente sobre a sua alimentação, pois assim ficará mais fácil entender como pode haver esse potencial farmacológico, ou seja, a possibilidade de ser utilizado na fabricação de um medicamento.
Os mosquitos possuem mecanismos bem complexos para sugar o sangue da sua vítima e por isso, escolhi algumas partes de um texto da biblioteca on line do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT – EM) da UFRJ, para você entender o porquê do grande interesse dos pesquisadores nos mosquitos.

“Uma vez que um artrópodo hematófago pousa ou escala até um ponto onde é possível efetuar a perfuração da pele do hospedeiro, vários estímulos locais são usados para identificar a posição adequada onde será feita a refeição. Quimioreceptores localizados na extremidade das partes bucais ou nas antenas inspecionam a pele na busca de “sabores” adequados. Mecanoreceptores, por sua vez, presentes nas extremidades das partes bucais indicam qual a melhor posição para a penetração da pele. Os hematófagos têm necessidade vital em driblar os mecanismos hemostáticos, inflamatórios e imunológicos dos seus hospedeiros e obter com sucesso o seu repasto sanguíneo. Uma vez que a penetração da pele ocorra, será despejada no sítio de alimentação uma série de moléculas que irão modificar localmente a fisiologia do hospedeiro vertebrado. Tais modificações favorecem o artrópodo hematófago na medida em que aumentam as chances de aquisição de sangue cujas propriedades hemostáticas estão alteradas. Para isto, a saliva de animais artrópodes sugadores de sangue e eventualmente o intestino são verdadeiros arsenais de moléculas com funções anti-hemostáticas. Adicionalmente, a saliva da maioria dos animais hematófagos, também apresenta moléculas que interferem no controle da resposta imune e inflamatório do seu hospedeiro.
(…)
Os animais hematófagos desenvolveram ao longo do processo evolutivo, mecanismos diferentes para se opor a hemostasia do hospedeiro durante a refeição sanguínea como: a inibição de agregação plaquetária, a utilização de vasodilatadores, a inibição da coagulação sangüínea e a ativação do processo fibrinolítico. As estratégias antihemostáticas utilizadas pelos animais hematófagos são muito variadas, sendo baseadas em inúmeras substâncias que interferem em diferentes pontos da hemostasia. Diversas substâncias provenientes de animais hematófagos têm sido descritas, sendo grande parte delas provenientes da saliva desses animais. É interessante notar que a saliva dos hematófagos possui substâncias que atuam sobre vários alvos no sistema hemostático do hospedeiro e, em algumas espécies, a saliva possui mais de uma substância que inibi uma mesma enzima envolvida na hemostasia. Esta redundância faz com que os animais hematófagos sejam extremamente eficientes.

(…)

O volume de sangue do hospedeiro vertebrado ocupa cerca de 5% do volume da pele, tornando difícil a localização imediata de vasos sanguüíneos pelo animal hematófago durante a picada. Para facilitar a localização dos vasos sanguíneos, os hematófagos utilizam substâncias capazes de dilatá-los facilitando a localização dos mesmos, e consequentemente diminuindo o tempo de busca para uma alimentação rápida (por exemplo) o que resulta em um tempo menor de interação com o hospedeiro, aumentando assim a chance de sobrevivência do ectoparasita. Outra vantagem da utilização de vasodilatadores é o aumento do aporte sanguíneo.”
O texto todo, você encontra aqui: Anti-Hemostáticos da Saliva e Intestino de Animais Hematófagos: Estrutura e Função – http://goo.gl/cEVGS4
Esse coquetel salivar, com um arsenal de moléculas imunomoduladoras, que os mosquitos utilizam para vencer as dificuldades encontradas ao picar a sua vítima, também é alvo de pesquisas sobre o vírus da zika e outras doenças transmissíveis por esses vetores. “A glândula salivar é também o local onde os parasitos (vírus da dengue, plasmódios) se reproduzem e/ou alojam para novamente infectar um novo hospedeiro. É durante a picada que o mosquito, injetando a saliva infectada com parasitos, transmite doenças como a dengue e a malária ao hospedeiro vertebrado.” Fonte: http://migre.me/t9Tn3. Podemos entender então, que é um local favorável para os parasitas se instalarem, pois se aproveitam das substâncias que formam a saliva para infectarem as suas vítimas efetivamente. Muita organização e cooperação, concordam?
Ficaram assustados, confusos ou otimistas? Assusta saber que um bichinho tão pequenininho possa ter tanta complexidade só para se alimentar. Confunde porque algumas palavras usadas no texto podem ser desconhecidas, mas sem problemas, você pode deixar sua dúvida nos comentários que terei o maior prazer em responder, combinado? Otimista em saber que todo esse mecanismo que o mosquito usa para se alimentar está sendo estudado em nosso favor, quem sabe um novo medicamento vai surgir dessa pesquisa? Quem sabe a cura? Então nada de subestimar os mosquitos! Toda essa complexidade encontrada neles, vem sendo estudada há anos e hoje, o Aedes aegypti tem sido o destaque nas pesquisas devido ao vírus zika, transmitido por esse mosquito.
Vou deixar aqui uma pequena explicação sobre a DC e a RCU, pois quem vem acompanhando o blog, sabe que eu tenho DC e estou sempre trazendo assuntos relacionados para o blog. Essas doenças são caracterizadas por inflamação crônica e exacerbada na mucosa intestinal, que persistem por períodos prolongados e existem os perídos de remissão quando controladas. Na retocolite ulcerativa, a inflamação é superficial, atingindo a mucosa do intestino grosso e o reto, enquanto que na doença de Crohn, pode acometer qualquer parte do tubo digestivo, atravessando a mucosa e penetrando as camadas da parede intestinal, podendo provocar também fístulas gastointestinais. A DC e a RCU não têm cura, sendo os objetivos do tratamento, a redução do processo inflamatório quando as doenças estão em atividade ou nas recidivas e o prolongamento do período de remissão.
 
 

Agora que você já sabe o que tem na saliva do mosquito, você pode compreender a sua, possível, utilidade farmacológica e o porquê dos pesquisadores estarem trabalhando nessa relação mosquito/DII.  Sobre o artigo, que eu já li, eu posso resumir para você que os pesquisadores, da USP, encontraram um coquetel de substâncias na saliva do Aedes aegypti com potencial terapêutico e imunomodulador em doenças inflamatórias e autoimunes como a DC e RCU. Essa pesquisa foi realizada em camundongos com inflamação intestinal (induzida), e os resultados foram publicados em maio de 2015 na revista científica International Immunopharmacology, com o titulo “Aedes aegypti salivary gland extract ameliorates experimental inflammatory bowel disease”. Como resultados, os pesquisadores observaram a redução da gravidade da doença, assim como uma melhora na evolução clínica da doença sem sinais de toxicidade, além de modular as respostas inflamatórias. Isso é um excelente achado! Sendo mais simplista nas palavras, a saliva do mosquito pode ser usada para a criação de um medicamento antiinflamatório, imunossupressor. A ausência de toxicidade também é muito bom, pois algumas vezes ao encontrarem moléculas com potencial farmacológico, elas podem ser tóxicas em um ponto que inviabilisa seu uso terapêutico. Não posso deixar de fazer uma observação aqui, sobre toxicidade, todo medicamento é tóxico, a dose correta e a sensibilidade do indivíduo é que diferencia um veneno de um medicamento.
Quando poderemos ver esses resultados em humanos? A pesquisa científica precisa cumprir alguns protocolos para iniciar os testes em humanos, mas com um achado tão significativo como esse, certamente o trabalho já deve estar em andamento. Desse extrato da saliva do Aedes aegypti, os pesquisadoes deverão extrair e identificar as moléculas com atividade farmacológica e sintetizá-as em laboratórios para então, resumidamente, iniciar os testes em humanos.
O link para o artigo é esse aqui: https://goo.gl/hPTPFe. Ele está em Inglês, caso você tenha interesse em saber mais adetalhes do artigo, tiver alguma dúvida ou quiser expor a sua opinião deixe seu comentário aqui. Vamos trocar ideias, informações! Pode enviar um e-mail também: alede75souza@gmail.com
Ontem, no site da USP, saiu uma notícia completa sobre o artigo, o link é esse aqui: http://www.ribeirao.usp.br/?p=6452 com o título “Saliva do Aedes aegypti pode tratar doenças inflamatórias intestinais”. Não deixe de ler! Complementa o que você leu aqui no blog.
Essa notícia é muito boa e renova a nossa esperança para a cura ou um tratamento mais eficiente dessas doenças! Um tramento que nos deixe em longo, longo perído de remissão. Não desista de se cuidar, mantenha seu tratamento em dia, não falte às consultas com seu Médico, alimente-se de forma saudável, não abandone o tratamento medicamentoso quando você se sentir bem, a DII não tem cura.
Procure ajuda em associações relacionadas a DII, você não está sozinho! Muitas pesquisas estão em andamento sobre a DII, acompanhe pelos sites de referência no assunto, como CCFA – Crohn’s & Colitis Foundation of America e a ABCD – Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn.
Você também pode buscar apoio em associações de pacientes pelo Brasil, aqui o link de algumas:

Conhece outras associações ou organizações que não citei aqui? Compartilhe a sua informação nos comentários ou envie um e-mail para que eu possa atualizar essa informação. Meu e-mail: alede75souza@gmail.com
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