Com planejamento é possível realizar o sonho de ser mãe sem grandes riscos
As pacientes com doença inflamatória intestinal que pretendem ter filhos costumam ter muitas dúvidas em relação à gravidez, especialmente no que diz respeito aos medicamentos. Entretanto, com alguns cuidados e acompanhamento de especialistas, é possível realizar o sonho de ser mãe sem grandes riscos.
A primeira atitude é planejar a gravidez para o período em que estiver em remissão da doença
O melhor momento para engravidar é até 35 anos de idade, com doença fora de atividade e com a menor dose de medicamentos possível.
Os médicos têm a obrigação de explicar que a mulher tem a capacidade de engravidar conservada, mas não deve engravidar com a DII em atividade e, para isso, precisam disponibilizar os métodos contraceptivos adequados a essa paciente.
Também é importante que a paciente esteja com o peso adequado, sem desnutrição e sem anemia, e que receba suplementação de ácido fólico no período periconcepcional, de preferência iniciando dois a três meses antes de liberar para engravidar.
Nas mulheres em tratamento com esteroides, devemos tentar entrar na gravidez com a menor dose possível do medicamento e suplementando cálcio e vitamina D para prevenção de perda de massa óssea. Na gestação, a suplementação de ferro é mais importante ainda, tendo em vista a elevada prevalência da anemia nas pacientes com doença de Crohn, que tende a se acentuar na gravidez.
Gravidez e curso da DII
Parece que a gravidez não modifica o curso da DII, mas existem estudos que mostram que cerca de 2/3 das pacientes com doença ativa na concepção têm atividade persistente da enfermidade durante a gravidez, enquanto só 1/3 das pacientes com doença fora de atividade na concepção experimentam crise durante a gestação. Também existem relatos de que, havendo atividade da doença no momento da concepção e durante a gestação, há aumento na chance de ocorrer aborto espontâneo, prematuridade, restrição de crescimento intrauterino e baixo peso do bebê ao nascimento, além de óbito fetal intrauterino e maiores índices de parto cesárea.
Segurança do bebê e da gestante
Embora já tenha havido preocupação com alterações congênitas, os últimos estudos não encontraram associação com malformações congênitas do feto e doença inflamatória intestinal. Durante a gestação, o ideal é evitar ministrar qualquer medicamento, sempre que possível. Mas, quando for necessário, os medicamentos devem ser utilizados para que a doença fique estabilizada e para manter a gestação, além de diminuir os riscos para o concepto. Jamais se deve deixar de tratar a doença para evitar danos ao concepto, pois a própria doença causará esses danos. Para isso, procuramos utilizar os medicamentos que sejam classificados pela Food and Drug Administration (FDA) – a agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, uma das mais respeitadas do mundo em aprovação de medicamentos – como A, B e, se necessário, os de classe C. Os medicamentos mais utilizados são derivados 5ASA, corticoides, azatioprina e anti-TNF. Recentemente, o uso de certolizumabe pegol na gravidez foi classificado pela FDA como Categoria B. Já as mulheres submetidas a tratamento com biológicos devem ser orientadas da necessidade de interromper o tratamento no final da gestação.
Cesária ou Normal?
É importante lembrar que mulheres ostomizadas têm riscos maiores de desnutrição e de complicações inflamatórias e no momento do parto, que deve ser sempre de indicação obstétrica. No entanto, sempre que possível, deve-se dar preferência ao parto normal, sendo importante o preparo do períneo durante a gestação por meio de fisioterapia perineal. Apesar disso, devido à presença de lesões anorretais e de complicações da vitabilidade fetal, existe maior risco de haver indicação de cesárea. Independentemente de qualquer intercorrência, para que a gestação tenha um curso favorável é importante que ginecologista, coloproctologista ou gastroenterologista conversem para darem uma melhor orientação às gestantes, que também devem ser orientadas a amamentar.
Fonte: ABCD