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Perguntas e respostas sobre anticorpos monoclonais

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Os anticorpos monoclonais estão entre os medicamentos mais caros que existem, e como sua produção é extremamente complexa, só agora que estão chegando ao mercado os primeiros fabricados no Brasil.

Que impacto isso tem na sociedade? Que benefícios eles trazem para pacientes com câncer? Como a tecnologia pode facilitar o acesso a esse tratamento, especialmente nos países em desenvolvimento? Essas são algumas das questões abordadas no material a seguir, que mapeia o que temos hoje no Brasil, e o que podemos ter no futuro.
1. O QUE SÃO ANTICORPOS MONOCLONAIS?
Esse termo se refere a remédios que são sintetizados a partir de organismos vivos (incluindo células humanas). Nessa abordagem, um anticorpo é clonado num laboratório e, a partir daí, utilizado no tratamento de doenças específicas. Eficazes e seguros, esses medicamentos constituem uma das áreas mais promissoras em biomedicina. Mas obtê-los não é fácil: tratam-se de moléculas grandes, muito mais complexas que as sintéticas.
Para ter uma ideia do tamanho do desafio: enquanto uma molécula de aspirina tem 21 átomos, a do etanercepte (medicamento biológico usado em casos de artrite reumatoide) tem mais de 7 mil átomos.
“O que distingue os anticorpos monoclonais dos demais medicamentos é sua capacidade de ligação a alvos específicos (uma determinada proteína de uma célula, por exemplo) e a sua capacidade de recrutamento do sistema imune, o que chamamos de imunoterapia”, afirma Bruno Kosa Lino Duarte, que coordena o curso de Anticorpos Monoclonais do projeto Hemo.educa, iniciativa da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular).
2. EM QUE CASOS ELES SÃO INDICADOS?
Existem atualmente cerca de 80 medicamentos deste tipo aprovados para uso nos Estados Unidos e na Europa. Eles cobrem vários tipos de doença, entre elas: esclerose múltipla, asma, dermatite atópica, artrite reumatóide, psoríase, doença de Crohn, hemofilia, alguns tipos de infecção, prevenção e tratamento de rejeição de transplante de órgãos, além de vários tipos de câncer.
3. A QUE OPÇÕES TEMOS ACESSO NO BRASIL?
“Aproximadamente 80% dos anticorpos monoclonais aprovados para uso na Europa e nos EUA estão aprovados pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para o uso no Brasil”, afirma Duarte, da ABHH. “Aqueles aprovados até o início dos anos 2000 têm o acesso mais facilitado, sendo disponíveis inclusive no SUS. O acesso a alguns desses medicamentos, porém, principalmente os aprovados mais recentemente e de custo mais elevado, é limitado até mesmo dentro da saúde suplementar.”
4. O QUE O SUS OFERECE?
Ainda de acordo com Duarte, o Ministério da Saúde disponibiliza, por meio do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, os seguintes anticorpos monoclonais para pacientes que preenchem critérios específicos:
1) abciximabe para o tratamento de infarto agudo do miocárdio;
2) natalizumabe para o tratamento de esclerose múltipla;
3) rituximabe, para o tratamento de linfomas e algumas doenças autoimunes;
4) tocilizumabe,
5) adalimumabe,
6) certolizumabe,
7) golimumabe e
8) infliximabe para o tratamento da artrite reumatóide e outras doenças autoimunes,
9) basiliximabe,
10) daclizumabe e
11) muromunoabe para o transplante de órgãos;
12) palivizumabe para a prevenção de infecções por vírus sincicial respiratório;
13) bevacizumabe,
14) cetuximabe e
15) trastuzumabe para o tratamento de alguns tipos de câncer;
16) omalizumabe para o tratamento de asma grave.

“Esse acesso não é homogêneo nas diferentes regiões do Brasil e corresponde a menos de um quarto dos anticorpos monoclonais aprovados para uso clínico atualmente no mundo”, afirma Duarte.

5. COMO ESTÁ A PRODUÇÃO DE ANTICORPOS MONOCLONAIS NO BRASIL?
Em 2016, foi inaugurada a primeira fábrica desse tipo no Brasil. Localizada em Embu das Artes (SP), a Biotec demandou um investimento de aproximadamente R$ 500 milhões, por meio de uma parceria da farmacêutica Libbs com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e com a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). “Para tornar esse avanço possível, houve muito planejamento e persistência. [Os desafios incluem] a busca por parceiros tecnológicos, os riscos assumidos tanto na construção da fábrica quanto nos projetos”, comenta Márcia Bueno, diretora de relações institucionais da Libbs.
A planta tem capacidade para fabricar mais de 400 kg de biofármacos por ano. Inicialmente, serão desenvolvidos seis biossimilares: rituximabe, bevacizumabe, palivizumabe, adalimumabe, etanercepte e trastuzumabe.
Este último, indicado para o tratamento do câncer de mama HER2+, já está sendo comercializado na rede privada e será disponibilizado pelo governo a partir do segundo semestre deste ano. Reconhecido como um dos principais avanços da medicina oncológica, o trastuzumabe identifica e inibe especificamente as células afetadas pela doença e provoca o menor dano possível às células sadias.
Por meio de uma PDP (Parceria para Desenvolvimento Produtivo), a Libbs fará a transferência da tecnologia relativa à produção do trastuzumabe para o Instituto Butantan. “Além do trastuzumabe, temos mais cinco PDPs de biológicos, todas com o Instituto Butantan”, afirma Bueno.
6. QUAL A IMPORTÂNCIA DE NACIONALIZAR ESSA PRODUÇÃO?
“Os anticorpos monoclonais figuram atualmente entre os medicamentos mais caros do mundo, trazendo hoje um alto custo para o Ministério da Saúde, que precisa importá-los para atender à demanda nacional e oferecer o que há de mais moderno no tratamento de doenças como o câncer e doenças autoimunes à população”, comenta Bueno, que vê nas PDPs uma estratégia importante para a construção de uma plataforma tecnológica que facilite a oferta desses remédios no País.
Estima-se que 60% do valor gasto pelo governo federal com medicamentos tenha como destino a aquisição de medicamentos imunibiológicos, como anticorpos monoclonais.
Segundo Duarte, da ABHH, o aumento do número de empresas com tecnologia para a produção destes medicamentos em território nacional poderia acarretar na redução dos custos e facilitar a distribuição. “É importante observar que a tecnologia para a produção de anticorpos monoclonais é muito cara. A nacionalização poderia reduzir custos associados à variação cambial e logística de distribuição, porém, os medicamentos ainda teriam um preço elevado, como acontece na Índia.”
7. COMO A TECNOLOGIA PODE ACELERAR A PRODUÇÃO DE ANTICORPOS MONOCLONAIS EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO?
Essa pergunta motivou a GE (General Eletric), a desenvolver o KUBio – uma estrutura modular de fábrica, baseada em contêineres e equipamentos flexíveis para produção de biofármacos.
Uma das vantagens da proposta diz respeito à rapidez com que a planta fica pronta. “Oferecemos uma planta completa, que vai estar em operação em 18 meses”, afirma Georgia Andrade, da GEHC Life Sciences. Para efeito de comparação: esse tipo de fábrica pode demorar em média de três a cinco anos para ser concluída no Brasil, segundo Andrade.
Além da demora com a construção (que se reflete no tempo necessário para entrar no mercado), as farmacêuticas também podem enfrentar, em alguns países, problemas decorrentes da falta de experiência com as exigências específicas desse tipo de construção – obstáculos desconhecidos que, no fim das contas, acabam tornando a obra muito mais cara. “É uma construção especializada, que precisa atender normas regulatórias para produção de medicamentos injetáveis em humanos, diferente de plantas farmacêuticas que produzem medicamentos sintéticos”, alerta Andrade.
A opção também é vantajosa do ponto de vista ambiental. O KUBio, vale destacar, consome menos água e energia que as plantas construídas de forma convencional (a redução é de aproximadamente 80%). Atualmente, a GE conta com unidades desse tipo em diferentes países – há três na China, onde o câncer é a principal causa de morte. Um exemplo de KUBio em operação na China se estabeleceu com a Farmacêutica Pfizer que queria, rapidamente, colocar no país uma planta de produção de seus medicamentos aprovados.
Para facilitar o acesso da população a um tratamento avançado, de forma economicamente viável, o Governo Brasileiro decidiu promover a produção local de biofármacos. Com esse incentivo, foram criadas políticas de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP), onde as Empresas Farmacêuticas Nacionais podem estabelecer acordos de transferência tecnológicas com parceiros internacionais para produção de biossimilares. Uma vez que a tecnologia for internalizada, deve existir o compromisso de capacitar Empresas Públicas para a produção desses medicamentos, desenvolvendo assim a Indústria Biotecnológica Nacional.
Fonte: Época Negócios

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