Aos 30 anos, X. se aposentou por invalidez. Ainda cheio de planos, viu sua vida parar por conta de uma doença que lhe tirou a liberdade e a qualidade de vida. Foram cerca de oito meses de sangramentos e dores fortes até que chegaram ao diagnóstico: ele tinha doença de Crohn, uma doença inflamatória séria do trato gastrointestinal. Mas se a falta de informação leva boa parte dos pacientes a um longo calvário até a descoberta da causa dos episódios de diarreia, cólica, febre e sangramento retal, as poucas opções terapêuticas tornam o tratamento um desafio.
Uma boa noticia é a chegada ao Brasil de um novo medicamento biológico, com um diferente mecanismo de ação, ampliando as armas hoje disponíveis para controlar a doença.
Ustequinumabe (Stelara)
Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o ustequinumabe é indicado para pacientes que apresentam a doença de forma moderada a grave e que falharam ou foram intolerantes ao uso de corticoides, imunossupressores (reduzem a atividade do sistema de defesa do corpo) ou de outros medicamentos biológicos anti-TNFs (anti fator de necrose tumoral), que bloqueiam um dos estágios do processo que provoca a inflamação.
O medicamento, que já e usado no Brasil para o tratamento de psoríase em placa e artrite psoriásica e, agora, está liberado para Crohn, interrompe a inflamação em um ponto diferente da resposta imunológica. Estudos clínicos do medicamento, que envolveram mais de 1.300 pacientes em diversos países, incluindo o Brasil, mostraram que a maioria dos pacientes tratados com ustequinumabe manteve a resposta ao tratamento e obtiveram a remissão da doença (sem sintomas) por até dois anos. Outra ponto positivo verificado nos estudos foi a resposta rápida. A droga tem o nome comercial Stelara e, segundo o laboratório Janssen, fabricante do remédio, a previsão é de que esteja disponível no mercado em dezembro.
De acordo com a gastroenterologista Cristina Flores, do Hospital das Clínicas de Porto Alegre – um dos sete centros brasileiros que participou do ensaio clínico do medicamento com pacientes com doença de Crohn – a resposta ao tratamento já pôde ser observada na terceira semana após a primeira aplicação. E, para quem sofre com dores, diarreias e sangramentos, esse resultado é animador.
– Com essa doença, vivo a base de remédios e dieta. Eu fico trancado em casa, porque tenho medo de sair e precisar ir ao banheiro – conta X, de 36 anos, morador de São Gonçalo.
A doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica que pode atingir qualquer parte do trato gastrointestinal. Os sintomas podem variar, mas geralmente incluem dor e sensibilidade abdominal, sangramento retal, perda de peso, febre e diarreia frequente – em alguns casos, por mais de 20 vezes ao dia.
A doença não tem cura. O tratamento busca controlar a inflamação e proporcionar a cicatrizacão da mucosa do intestino. Não se sabe a causa dessa doença autoimune.
A ação do ustequinumabe para pacientes com Crohn foi apresentada a um grupo de cerca de 50 médicos brasileiros, nesta quinta-feira, durante um seminário em Orlando, na Florida. O evento aconteceu durante o congresso AIBD 2017 – Advances in Inflamatory Borel Diseses, que abordou tratamentos multidisciplinares para pacientes com doenças inflamatórias intestinais.
* A jornalista Flávia Junqueira viajou para Orlando a convite do laboratório Janssen
Fonte: Extra